domingo, 19 de outubro de 2008

A TRIBUNA DO NORTE RETRATA A VIDA DE UM JOVEM CHAMADO JOCIMAR DANTAS DE ARAÚJO


No cenário do resultado das eleições municipais de 2008, a pequena cidade de Jardim do Seridó chamou atenção. Não pela disputa em si, mas pelo vencedor do pleito. O novo prefeito de Jardim do Seridó é um sacerdote. Padre Jocimar Dantas estréia na política no executivo municipal. Com 31 anos, ele foi o único sacerdote eleito no Rio Grande do Norte.

Como todo político, padre Jocimar traz o discurso pronto de que atendeu ao apelo do povo. E como sacerdote cita vários trechos da Bíblia onde argumenta a necessidade da “fé com obras”. O sacerdote destaca que planeja abandonar o trabalho na Igreja para se dedicar exclusivamente a política.

E aos críticos, padre Jocimar lembra que “Jesus Cristo foi o maior político do mundo”. “No meu entender o maior político da humanidade foi Jesus Cristo. E quando Ele esteve no nosso meio procurou fazer a justiça, a paz, a união, o amor acontecer entre as pessoas que conviveram com Ele. Todo ser humano é um ser político”, destacou o novo prefeito de Jardim do Seridó.

Padre Jocimar Dantas é o convidado de hoje do 3 X 4. Uma conversa que enveredou pela abordagem da política e as aparentes contradições que há com a atuação religiosa, o desafio e os novos trabalhos como prefeito.

O senhor costuma dizer que para sua candidatura “ouviu a convocação do povo”. Como é concretamente uma “convocação do povo”?
O povo mais simples me interpelava e dizia que queriam um prefeito que residisse na cidade, um prefeito que olhe para saúde, educação, um prefeito que atenda as pessoas, que visite a zona rural. Essas pessoas diziam: “padre entendemos que você é a pessoa ideal para vir cuidar de Jardim e do povo”. E a princípio relutei muito com a idéia de entrar na política. Embora eu fosse de família que participava da política, eu relutei porque estava muito bem em São José, que é uma paróquia muito boa, estava fazendo o terceiro curso (universitário), mas o chamado do povo foi mais forte. Deus chamou Moisés “vai Moisés liberta meu povo da escravidão do Egito”. E Ele libertou o povo do Egito, da escravidão. Vi que era uma missão que Deus colocava em minha vida. Eram duas paixões. A primeira paixão é a realização pessoal do sacerdócio, servir ao próximo, servir meu rebanho. A segunda paixão é a política.



Mas essas duas paixões não são contraditórias: religião e política?
Não. Não são contraditórias porque a fé e as obras caminham juntas. Veja só a palavra de Deus quando São Paulo diz que fé sem obras é morta. Mesmo como sacerdote sempre tive uma visão muito politizada da sociedade. Mesmo sendo padre católico sempre acompanhei a linha mais de esquerda da Igreja, sempre me envolvi em movimentos sociais, de juventude, sempre fui muito a favor das comunidades eclesiais de base, que é movimento de esquerda da igreja. Sempre li muito Leonardo Boff, li expoentes dessa linha de esquerda da Igreja.



O fato de ser padre o senhor saiu em vantagem na eleição por integrar uma instituição como a Igreja Católica?
Isso ajudou muito. A Igreja sempre teve muita influência e a Igreja tem muita credibilidade. Isso ajudou muito. Outro ponto interessante é que a Igreja sempre teve padres na política. Posso citar aqui no Nordeste o padre Cícero do Juazeiro, que foi um grande revolucionário na política. No nosso Estado tem o monsenhor Walfredo Gurgel, que era de Caicó. O padre José Dantas Cortez foi deputado estadual. Tem muitos padres que entraram para história. Vou ser o quarto padre prefeito de Jardim.



Em qual desses padres o senhor se espelha?
Todos procuraram fazer pelo povo, ter conduta correta, ilibada. Diria que fica difícil me espelhar em uma só pessoa.



O senhor está no sacerdócio há três anos e já interrompe o trabalho para enveredar por outro caminho. O senhor não está deixando essa obra iniciada “inacabada”?
Não é. No meu entender o maior político da humanidade foi Jesus Cristo. E quando Ele esteve no nosso meio procurou fazer a justiça, a paz, a união, o amor acontecer entre as pessoas que conviveram com Ele. Todo ser humano é um ser político. O sacerdote pelo fato de conhecer a palavra de Deus a responsabilidade é grande para ele. Ele conhece e pelo fato de conhecer deve fazer a justiça, a paz, o amor, a união.



Então para fazer o senhor precisou entrar na política?
Não. Como padre eu fiz muito na minha comunidade local. Mas senti necessidade de mais. Ninguém faz mais sem política. Infelizmente ninguém no Brasil faz nada sem influência política. Senti essa necessidade de não poder fazer mais pelo meu povo, só trabalhava o lado espiritual. Por isso me candidatei a prefeito da minha terra. Me candidatei porque ouvi o apelo do povo.



Sua atuação como prefeito não poderia colocar em xeque seu sacerdócio?
Acredito que não porque a Igreja sempre teve padres na política, militando na política. Isso mais intimamente no passado, na época do Império. Acredito que se administrei bem minha paróquia, entreguei a paróquia muito bem , sem dívida, com dinheiro em caixa, eu serei um grande gestor a frente da prefeitura da minha terra.



Mas padre uma paróquia é muito diferente de uma prefeitura.
É bem menor. Digamos que posso dizer que a paróquia é o laboratório de uma prefeitura. É um pequeno laboratório onde aprendi a administrar para me preparar e administrar a prefeitura da minha terra.



Qual a diferença de um padre e um civil em uma prefeitura?
Primeiramente, o padre prefeito vou ser presente na vida das pessoas, presente na minha cidade. As pessoas não vão ter acanhamento de procurar um prefeito padre. Elas não vão ter vergonha de falar, de dizer o que estão sentindo. No meu ponto de vista um padre na prefeitura pode fazer o diferencial porque ele vai ouvir as pessoas, os seus problemas, suas dificuldades. O padre vai junto com a população encontrar solução para os problemas. O grande problema que Jardim do Seridó enfrenta é na saúde, no desemprego e o meu papel em Jardim, já que fui eleito pelo povo mais simples, fui eleito pelo povo mais humilde, meu compromisso é com esse povo. Não tenho compromisso com poderosos. Meu compromisso não é com grupos.



E como fica seu compromisso com a Igreja?
Eu estou licenciado da Igreja. Vou conversar com o bispo dom Delson e ele me dará uma orientação. Eu pretendo ficar licenciado para me dedicar completamente a minha terra, ao meu povo. No caso eu não vou assumir paróquia e vou estar licenciado de celebrar, mas faço minhas orações. Tenho uma vida cristã como qualquer católico praticante. Vivo o ritual católico cristão na minha vida. Um fato interessante na campanha foi que recebi um apoio muito forte dos evangélicos. Se antes já era a favor do ecumenismo, que é o respeito entre as religiões. Houve como que um ecumenismo, uma participação muito forte desses grupos na minha eleição.



Inclusive, as Igrejas estão cada vez mais com representantes nas administrações municipais e no legislativo das cidades. É saudável esse cenário das lideranças religiosas enveredarem pela política?
Acredito que isso pode fazer a diferença. Em meio a tanta corrupção, tanta esperança que surge, com ideologia que não corresponde ao apelo popular, essa é uma das saídas colocar uma pessoa (ligada a religião).



O senhor cogita que poderá abandonar o sacerdócio para se dedicar a política, já que nesse momento inicia essa nova carreira?
Abandonar nunca. O sacerdócio é minha vida, serei sacerdote para sempre. Mas quero dar uma colaboração a minha terra, ao meu povo. Quero me gastar pela minha terra, quero gastar minha juventude, minhas forças para o bem da minha terra. A vida pública é uma missão que abracei tendo em vista uma missão maior que é o sacerdócio. Abraço a vida pública por completo, mas não sei até onde vai e não sei se irei abraçar para minha diva
.FOTO E FONTE:TRIBUNA DO NORTE

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