segunda-feira, 10 de novembro de 2008

CARLOS EDUARDO ALVES:

O prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PSB) diverge da leitura feita por alguns políticos, inclusive correligionários seus, de que a derrota da deputada federal Fátima Bezerra (PT) enfraqueceu qualquer projeto seu para 2010. Embora admita que a vitória de sua candidata ajudaria a ele e todos aqueles que se engajaram na campanha, Carlos Eduardo entende que cada eleição é um fato, com história e circunstâncias distintas. ‘‘O resultado da eleição não tem nenhuma vinculação com a eleição de 2010’’, acredita.

Apesar da vitória da prefeita eleita Micarla de Sousa (PV) e, por conseguinte, do senador José Agripino Mais (DEM), na condição de principal articulador da candidatura dela, os reflexos disto para 2010 são indefinidos. Em entrevista a O Poti, o prefeito faz uma análise do resultado eleitoral e os motivos para a derrota de Fátima, faz um balanço da sua gestão e comenta sua disposição de continuar no PSB a partir de primeiro de janeiro, quando passar a ser ‘‘apenas um militante político’’.

O Poti - Essa semana, o senhor recebeu a prefeita eleita Micarla de Sousa e o vice Paulinho Freire para dar início à transição. Qual a expectativa do senhor em relação a esse processo?
Carlos Eduardo Alves - Foi um encontro cordial, onde de forma democrática e civilizada, nós conversamos a respeito da administração do município, eu já falei algumas coisas importantes sobre a atual administração e depois acertamos o primeiro encontro das equipes de transição. Acho que foi importante porque, dessa forma, estaremos fazendo uma passagem de governo que vai colaborar muito para que a nova administração já comece a orientar os seus programas de governo.

Qual a realidade que a prefeita eleita encontrará?
Ela vai encontrar uma administração que, ao longo de seis anos à frente da prefeitura, teve a condição de, com muito esforço e trabalho, ter realizado muito em favor de uma cidade melhor de se viver. Depois, ela vai encontrar uma situação financeira equilibrada, uma administração que primou pela lisura e pela transparência dos seus atos e que jamais representará qualquer dificuldade para que a nova administração leve a efeito os seus projetos e ações.

Logo após a eleição, o senhor declarou que esperava que Micarla fizesse uma boa administração, embora não acreditasse nisso. O senhor continua pensando da mesma forma?
O que eu tenho a dizer sobre isso é, quando eu apoiei e votei na deputada Fátima Bezerra, o fiz na convicção de que estava escolhendo a melhor candidata a prefeita de Natal. Posso dizer que, se tivéssemos colhido o resultado esperado, Natal continuaria avançando na qualidade de vida. Eu não votei na prefeita eleita. Mas, como sou um natalense de coração, aqui vivo, aqui vive minha família, toda minha vida está aqui, eu faço votos de que Micarla seja bem sucedida e que ela cumpra suas promessas de campanha. Dizer mais do que isso seria precipitação.

O senhor pretende ser uma das pessoas a lembrar e cobrar essas promessas de campanha?
A partir de janeiro, eu não terei mais mandato popular, serei um militante político. E, naturalmente, como tal, e seria até como cidadão, eu vou continuar acompanhando a vida da minha cidade, interessado em tudo que acontece na minha cidade. Naquilo que achar que está sendo bem feito, não tenha dúvidas que terei a naturalidade e humildade de aplaudir, assim como também, aquilo que não achar condizente com os interesses da coletividade, da cidade, também tenho a necessária liberdade até de cobrar, de criticar.

Do ponto de vista político, considerando os projetos que o senhor tem para o futuro, dentro daquele cenário que contava com a eleição de Fátima, o que é que muda com a eleição de Micarla para o seu projeto?
Cada eleição é um fato, tem a sua história e as suas circunstâncias. Eu acredito que perdendo uma eleição, absolutamente, nós estamos impedidos de disputar e ter êxito na próxima eleição. Os exemplos disso são incontáveis. De maneira que o resultado da eleição não tem nenhuma vinculação com a eleição de 2010. Evidentemente que uma vitória da deputada Fátima Bezerra, primeiramente seria melhor para a nossa cidade, e, segundo, ajudaria não só a um projeto político meu, mas de todos aqueles que se engajaram na campanha.

O senhor se arrepende de ter articulado junto ao PMDB, ao PT e ao seu partido a formação dessa aliança em torno da deputada Fátima?
Quando eu participei das articulações tendo em vista a união das candidaturas a prefeito de Natal, primeiro, eu tinha a convicção de que estava escolhendo o melhor caminho para a cidade. Agora, quanto à candidatura, não foi uma escolha pessoal minha. Jamais me apresentei às principais lideranças, como o senador Garibaldi do PMDB, a governadora Wilma do PSB e os demais partidos, citando o nome de Fátima Bezerra. A escolha por ela não partiu do prefeito, mas de um colegiado de partidos que desaguou, depois de ampla discussão, na escolha da deputada Fátima Bezerra à qual eu apoiei quando o nome dela atendeu a um consenso maior, até porque a conheço e acreditava que ela seria a melhor prefeita para Natal.

Na sua opinião, qual foi o principal fator que concorreu para a derrota da deputada Fátima e para a vitória de Micarla?
Eu acredito que a nossa adversária, Micarla, já estava em campanha há três anos. Ela estava em campanha de uma forma privilegiada porque tinha, durante todo esse tempo, um programa de uma hora na televisão, em horário nobre, que era na realidade um programa eleitoral disfarçado. Eu acredito que ela consolidou seu nome, nesses três anos, através do programa 60 Minutos na televisão que ela é proprietária. Na campanha, nós tínhamos oito minutos, em menos de dois meses, para apresentar uma candidata e isso foi, ao meu ver, o grande diferencial.

Mas sendo a deputada Fátima Bezerra uma pessoa conhecida, que já havia disputado outras eleições, não diminuía essa diferença de exposição?
É diferente. Porque a atuação política além de sofrer, no país todo, grande desgaste, principalmente o Congresso Nacional, a deputada Fátima Bezerra não estava na mídia. Pelo menos com relação à deputada estadual Micarla de Sousa, não há o que comparar. Ela tem atuação parlamentar, porém não tem franca exposição na mídia. Eu disse na campanha que Micarla jamais apareceu como candidata fazendo seu nome na TV Assembléia. Até porque a audiência da TV Assembléia, comparando com o SBT, simplesmente não existe. A candidatura de Micarla foi forjada há três anos, durante uma hora por dia, com marqueteiro, com pesquisas dirigidas. Aqui não vai uma crítica, aqui vai uma constatação. É bom que se diga, porque a campanha acabou. Inclusive porque quando Micarla aparecia no 60 Minutos, ela não aparecia como deputada, ela aparecia como jornalista.

O senhor continua no PSB a partir de primeiro de janeiro?
Não tenho a intenção de mudar de partido. Desde que acabou a eleição, no outro dia eu retomei a minha agenda administrativa. Até esse momento, não conversei política nem com o meu partido e nem com os partidos aliados. Nós vamos entregar uma grande obra administrativa à nossa cidade, cujas inaugurações começaram a partir de meados de novembro até o dia 30 de dezembro onde nós vamos entregar obras de grande importância para a cidade.

Há uma leitura feita por alguns políticos, inclusive do seu partido, como o vereador Enildo Alves, de que com a derrota da deputada Fátima, o senhor ficou enfraquecido, inclusive para o seu projeto de ser candidato a governador em 2010. Qual a análise que o senhor faz da repercussão desse cenário político para seu projeto?
Eu quero me reportar à resposta anterior. Desde que acabou a eleição, eu enrolei a bandeira e estou trabalhando totalmente voltado para a administração. Meu maior desafio, agora, é entregar o Memorial de Natal completando o Parque da Cidade, entregar o maior ginásio poliesportivo do estado, na Zona Norte, a primeira maternidade da Zona Norte, o primeiro mercado modelo de Natal, concluir as obras de Capim Macio, Nossa Senhora da Apresentação, Vila de Ponta Negra, Neópolis, é arrumar as gavetas no final do ano e continuar na militância política e aí, com certeza, eu vou tratar de política. Não é que eu esteja desatento ao noticiário político, mas de política eu vou tratar em 2009. Terminando essa minha missão, que já vislumbro cumprida, vou para a agenda política.

O senhor acha que essa eleição fortaleceu o senador José Agripino em Natal a ponto de influenciar no pleito de 2010?
Eu acho que o senador José Agripino foi o principal articulador da candidatura da deputada Micarla. Portando, saiu também vitorioso. Se antes ele não dispunha de bases políticas mais amplas em Natal, agora ele conseguiu ampliar. Agora, se isso significa fortaleza política, pode ser que sim, mas pode ser que não. Eu me lembro bem de 1996, quando o então governador Garibaldi Filho chegou a se licenciar do cargo para passar 30 dias em Natal na campanha. O candidato dele não foi sequer para o segundo turno. Venceu o do senador Agripino. Dois anos depois, Garibaldi derrotou José Agripino logo no primeiro turno para o governo do estado. Então, eu acho que as eleições sempre se separam. Pelo menos é o que eu tenho visto.

A bancada do PSB eleita para a próxima legislatura está dividida, uma parte segue a liderança do deputado federal Rogério Marinho, incluindo o vereador Enildo Alves que já afirmou que não tem quem o faça ser oposição a Micarla. Na condição de presidente municipal do PSB, o senhor pretende chamar os vereadores para discutir a postura que o partido deve ter em relação à gestão da prefeita eleita?
Como eu disse, até o dia 31 de dezembro, eu estou completamente voltado a administração. Estou, junto com meus auxiliares, no sentido de que a gente conclua, até 31 de dezembro, todas as nossas obras, os nossos projetos e, aí, com certeza eu sairei para uma agenda política.

Qual a opinião do senhor sobre a disposição de se manter a aliança do PSB com PMDB e PT até 2010?
Eu acho que essa aliança deve continuar, eu defendo a continuação da aliança. Não há incompatibilidade de ordem ideológica ou de posicionamento político. Ao contrário, essa aliança está lá em Brasília e aconteceu em Natal e em diversos municípios do Rio Grande do Norte. Assim como também, deve continuar a aliança com o PCdoB, com o PRB, com o PDT, enfim, com todos os partidos que estão unidos em nível nacional.

Como o senhor definiria, em poucas palavras, a sua administração?
Compromisso com Natal.

Que balanço o senhor faz da sua gestão?
Nós conseguimos muitos avanços. Primeiro, por ter despertado Natal para a atenção com o seu desenvolvimento sustentável, em episódios como a construção de hotel na Via Costeira, construção na encosta do Morro do Careca, como regulamentar áreas non edificantes, a defesa do Plano Diretor concebido democraticamente pela cidade. Eu acho que isso foi uma grande contribuição contra o pseudo desenvolvimento e o falso progresso. Outra área importante foi a construção do aterro sanitário, resolvendo o problema do lixo de Natal pelos próximos 50 anos. Aliado a isso, a coleta seletiva. Tem o Parque da Cidade, que é só para o lazer, mas sobretudo é um parque para a educação e de cultura.

Quais as obras que o senhor destacaria em áreas como educação, saúde e cultura?
O Centro de Educação já está funcionando e, no dia 14 de novembro, nós vamos inaugurar o Memorial da Cidade. Eu poderia citar 30 escolas construídas em seis anos e que resulta em mais de 23 mil novas vagas na rede municipal, o Centro de Referência Aluízio Alves que era um sonho do magistério, a primeira maternidade da Zona Norte que, com 300 mil habitantes, não tinha uma, o ginásio poliesportivo que será um templo de integração da população, a recuperação do Machadão depois de 35 anos de construído, os mercados públicos, o Mercado do Peixe, o primeiro mercado modelo de Natal, a urbanização das feiras. Essa cidade passou a ter um projeto cultural, além de ter o seu Museu de Cultura Popular, na Ribeira, passa a ter o seu Memorial, e um projeto cultural que se constitui do Salão de Artes Plásticas, Festival de Música, Goiamun Áudio Visual curtas e documentários, Festival de Dança, Encontro de Escritores, Festival de Cinema, batemos o recorde de edição de livros, a primeira escola de teatro do Nordeste, o Centro Cultural Gesiel Figueiredo, a solução do problema de Capim Macio, de Nossa Senhora da Apresentação. Então, em linhas gerais, são muitos projetos e ações administrativas de uma administração que começou com algumas previsões de fracasso e que está terminando com um volume de projetos e de ações - sem desmerecer os meus antecessores - mas a maior da história administrativa de Natal.
Iranilton Marcolino e Flávio Urbano
Da equipe de O POTI

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